Uma das bebidas mais vendidas no mundo

Uma das bebidas mais vendidas no mundo, comercializada em mais de 140 países. Vício para uns, vilã para outros. O Desfavor Explica de hoje é sobre nosso doce veneno, Coca-Cola.

Antes de mais nada, quero informar que para escrever este texto pedi ajuda de profissionais avalizados. Todas as informações técnicas que podem ser vistas aqui me foram passadas por técnicos da área. E desde já agradeço a compreensão e paciência dos três que consultei em responder minhas intermináveis perguntas (dou uma folha de coca para quem adivinhar em que empresa eles trabalham).

A Coca-Cola foi criada pelo farmacêutico John Pemberton, em 1886. Não foi criada como uma bebida e sim como um remédio patenteado (era um “tônico para os nervos”, o que quer que isso signifique). Usava como estimulante a folha de coca (essa mesma, a da cocaína), o que alimentou uma lenda urbana que Coca-Cola contém cocaína até os dias de hoje. Com o tempo, o estimulante foi substituído pela cafeína, entretanto, a folha de coca ainda é usada para dar sabor à bebida, porém essa folha não tem qualquer potencial entorpecente. Até 1915, a Coca-Cola de fato continha uma pequena quantidade de cocaína (o que na época era permitido). Depois disso, foi suprimida e restou apenas a folha de coca.

A bebida recebeu esse nome porque era composta de folhas de COCA e o sabor era oriundo da noz de COLA (uma plantinha africana).

Com o tempo e com algumas alterações em sua fórmula e uma campanha de marketing muito eficiente, entrou no mercado como uma das bebidas mais consumidas no mundo. Nos primórdios, o concentrado da bebida (xarope que dá origem ao refrigerante) era armazenado em barris vermelhos. Por isso adotaram o vermelho como cor oficial da marca e fizera disso uma característica marcante. Grandes trolls da publicidade fazem isso: capitalizam em cima de tudo para tornar o produto onipresente.

O nome do responsável pela marca Coca-Cola é Asa Griggs Candler. Esse gênio da trollagem alimentar nos empurrou essa bosta goela abaixo e nos fez crer que seu sabor é agradável. Desenvolveu uma estratégia de marketing massificando a presença da Coca-Cola na vida dos consumidores: distribuiu objetos com a marca da Coca-Cola para os comerciantes locais, de modo que ela se torne onipresente, espalhou as Coke Machines para permitir que o consumidor tenha acesso à bebida em todos os lugares e criou embalagens portáteis que permitiam beber Coca-Cola em qualquer lugar.

Também associou a Coca-Cola à família, com propagandas onde ela era a bebida oficial do almoço de domingo. Criaram na Coca-Cola uma idéia de originalidade, rebaixando os concorrentes a meras “cópias”. Fizeram uma garrafa exclusiva, chamada “Contour”, que o consumidor poderia reconhecer sem rótulo, até mesmo de olhos vendados ou no escuro,
graças a seu design original, que foi um sucesso, uma marca em si
mesma. Esta sucessão acertos publicitários alavancou o sucesso da
bebida. Mas é claro que não foi apenas marketing. A bebida, por sua
fórmula, conquistou nossos organismos.

Vamos à grande pergunta que não quer calar: a fórmula secreta da Coca-Cola. Como pode ser que nenhum outro refrigerante a tenha descoberto e imitado? Como pode uma bebida fabricada há mais de cem anos manter em sigilo sua fórmula? Eu sempre acreditei nessa lenda urbana de que a fórmula da Coca-Cola era secreta e apenas dois executivos sabiam seu conteúdo, cada um conhecendo apenas a metade da fórmula. Estava errada. Até parece que existem segredos na era da internet.

Senhoras e Senhores, o Desfavor lhes dá a fórmula da Coca-Cola:
concentrado de açúcar queimado (vulgo “caramelo”, que é o que lhe dá essa cor escura), ácido ortofosfórico (um “veneno” do qual falarei
mais tarde), sacarose (vulgo açúcar, mais precisamente açúcar da
frutose do milho), extrato da folha da planta de coca (calma, não é
cocaína), cafeína (que faz com que as pessoas que ingerem Coca-Cola se mantenham mais alertas e concentradas), conservantes, Dióxido de Carbono e meu grande inimigo, o Sódio.

“Mas Sally, se todo mundo sabe a fórmula, porque os concorrentes tem gosto de xarope? Porque não fazem bebidas tão gostosas como a Coca-Cola?”. É aqui que começa a baixaria. Não é inteligente escrever o que eu vou escrever, mas eu vou escrever mesmo assim e na pior das hipóteses, isso vira um Processa EU. Já pensou? Ser processada pela Coca-Cola? As outras marcas usam em sua composição uma substância chamada ácido cítrico. A Coca usa ácido ortofosfórico. O ácido ortofosfórico causa uma falsa sensação de leveza, de boca limpa, de refrescância que torna a Coca-Cola mais agradável que a concorrência.
Ele é o diferencial. Sem ele a Coca-Cola seria intragável. Mas, se ele
é o pulo do gato, porque os demais refrigerantes não o usam?

Simples. Porque é proibido. Só a Coca-Cola tem permissão. Porque é
proibido? Porque pode causar uma série de malefício à saúde, quando consumido em excesso, como corrosão do esmalte dos dentes, osteoporose e comprometimento da formação óssea e dentária de uma criança. Ele rouba cálcio do organismo, por isso pode causar esses e muitos outros estragos. Pergunta número dois: se mais ninguém pode usar, porque a Coca-Cola pode? Não sei responder. Ninguém sabe responder. Tirem suas próprias conclusões.

Já fizeram um grande alarde sobre a presença da folha de coca na Coca-Cola. Um laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal concluiu que a Coca-Cola do Brasil usa sim folhas de coca como matéria prima do extrato vegetal que dá origem à bebida. Isso não quer dizer que a Coca-Cola seja uma droga, nem que vicie (até vicia, mas é pelo açúcar e pelo sódio). A folha de coca não é sinônimo de cocaína, não contém alcalóides entorpecentes. Mas então porque tanto barulho?
Porque o uso da folha de coca não seria permitido por lei, mesmo que
não tenha efeitos entorpecentes. Segue um trecho do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal:

“… as folhas de coca provenientes do vegetal cientificamente
denominado Erytroxylum novagranatense, variedade truxillensi,
cultivada no Peru, são utilizadas como matéria-prima na fabricação do extrato vegetal a partir do qual é fabricado o refrigerante Coca-Cola (…) as análises químicas realizadas (…) não revelaram a presença de cocaína e outras substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas na composição dos extratos vegetais”.

Na época em que explodiu a controvérsia, o chefão da marca de
refrigerantes Dolly foi à imprensa questionar porque a Coca-Cola
poderia usar folhas de coca em sua composição se a legislação
brasileira proibia sua utilização e de qualquer derivado da folha de
coca. O Presidente do Instituto Brasileiro de Auditoria em Vigilância
Sanitária disse que, a rigor, o produto deveria ter sua
comercialização suspensa.

Desde então, começou uma briga onde de um lado se pede a suspensão da comercialização pelo descumprimento à lei, e do outro a Coca-Cola alegando que não contém substâncias entorpecentes, logo, não faz mal à saúde, logo, não precisa respeitar essa lei. Teve de tudo um pouco, ação judicial, ameaça de morte e boicote. E ninguém fala na porra do ácido ortofosfórico, que mais ninguém pode usar e que é o que realmente está fodendo com a saúde das pessoas.

E não é só o ácido ortofosfórico que faz mal ao organismo humano. O
teor de acidez da Coca-Cola é assustador, seu PH é de 2.5, algo
próximo ao vinagre ou ao nosso suco gástrico. Tá pouco? Quer mais?
Coca-Cola tem uma quantidade elevada de sódio. Cloreto de Sódio
provoca uma sensação “refrescante”, o que não passa de uma armadilha, porque acaba causando uma sede ainda maior. Daí essa vontade de beber mais Coca-Cola. E o sódio vai entrando… causando retenção hídrica no seu organismo, vulgo celulite.

A bebida também contém muito açúcar, mas não enjoa porque essa
quantidade de sódio compensa e imensa quantidade de açúcar. Um “anula” o outro, nos fazendo ingerir ambos em doses cavalares. Cerca de 10% da Coca-Cola são de açúcar, ou seja, você bebe  aproximadamente dez colheres de açúcar de uma vez. E o maldito ácido ortofosfórico combinado com o sódio faz com que você não sinta que está ingerindo tanto açúcar.

Quando tanto açúcar entra no organismo, há produção de insulina para tentar conter o estrago. O fígado transforma esse açúcar em gordura e com o tempo você não cabe mais na sua calça, parte por culpa do açúcar (gordura), parte por culpa do sódio (retenção de líquidos). Todo esse açúcar que você ingeriu é estocado pelo seu organismo, ou seja, aproximadamente duas horas depois, por causa do aumento da produção de insulina, seu organismo deu conta do açúcar, que fica baixo outra vez e você está com vontade de beber Coca-Cola novamente.

Além disso, duas horas depois a cafeína também já parou de fazer
efeito. A “euforia da Coca-Cola” passou. Por isso, as pessoas bebem
mais, sobrecarregando novamente seu organismo, enquanto o ácido
ortofosfórico se encarrega de levar embora pelo intestino grosso seu
cálcio, magnésio, zinco e outros.

Porque nosso organismo pede mais de uma coisa que faz mal? Muitos e muitos anos atrás, quando o ser humano caçava para se alimentar, o organismo se acostumou a estocar o máximo que podia, porque nunca se sabia quando seria a próxima refeição. Hoje, por resquício daqueles tempos, o corpo “pede” comidas gordurosas ou açucaradas, para estocar em caso de necessidade, mesmo sem precisar. Sobrevivia quem mais estocava. Esses foram os genes que prosperaram. Açúcar vicia, é um fato científico.

E para quem pensa que estará seguro tomando a versão diet… só
lamento. A versão sem açúcar é adoçada com aspartame. O aspartame, por suas propriedades (a explicação é tenebrosamente complexa) tem um tempo de validade muito curto depois de molhado, entre duas semanas e um mês. Depois disso passa a ter um gosto horrível. Para evitar essa deterioração, colocam uma caralhada de substâncias químicas para prolongar a vida útil do adoçante, para impedir que ele cristalize  e para diversas outras coisas que são chatas demais para explicar aqui.
Conclusão: ainda mais tóxico e nocivo ao organismo do que a versão
normal. E contém mais sódio, então, não pensem que quem toma
refrigerante sem açúcar não engorda, porque o sódio é um vilão ainda pior que o açúcar na dieta. Sem contar que em ambos os casos, o gás pode dilatar as paredes do estômago e te fazer comer mais.

Mas nada disso entra na cabecinha viciada dos consumidores de Coca-Cola. Mesmo cientes de que, em grandes quantidades e a longo prazo ela pode fazer mal ao seu organismo, ainda existem pessoas que apenas bebem Coca-Cola em suas vidas. Sim, pessoas que substituem água por Coca-Cola. A combinação açúcar – sódio – cafeína tem um potencial viciante e os mais fracos se jogam nos braços do vício como se não houvesse amanhã.

Em países onde há consumo ostensivo de Coca-Cola o número de obesos aumentou significativamente. Nos EUA, 73% da população está acima do peso ideal (fonte: BBC Brasil). Claro que a culpa não é só da Coca-Cola, mas coincidentemente, nos estados onde sua venda é mais expressiva, o número de obesos é maior.

Faço aqui uma pergunta que também costumo fazer aos fumantes: sua primeira vez ao usar o produto, foi boa? A primeira vez que você tomou Coca-Cola, o gosto lhe foi agradável? Duvido. Mas eu duvido é muito.
Tal qual os fumantes, geralmente a primeira vez não é agradável, mas
ainda assim, as pessoas insistem. Pressão social, curiosidade, ou sabe-se lá porque. O fato é que insistem tanto que o organismo se acostuma e pede mais.

Tente dar Coca-Cola a um animal de estimação. Eu já tentei. Eles viram a cara. Mas o marketing exerce tamanha influência em nós, supostos animais racionais, que acabamos cedendo e nos entregando a aquela latinha vermelha gelada. Nada que um Papai Noel de bochechas rosadas um simpático urso polar dançando não resolva. Quão idiotas nós somos?

Sei que ninguém vai deixar de beber Coca-Cola por causa disto que eu escrevi aqui, nem é essa a intenção. Não quero passar sermão nem fazer campanha contra a Coca-Cola, isso seria hippie demais. Livre arbítrio, cada um escolhe a forma como quer se detonar.

Só fico revoltada quando vejo imbecilóides dando Coca-Cola na
mamadeira para seus filhos. Se quer se destruir, beleza, de fode aí,
Prêmio Darwin, um imbecil a menos no mundo, mas sacanear uma criança que não pode se defender é um pouco demais para o meu gosto. Permitir a ingestão de grandes quantidades de Coca-Cola antes de que se complete a formação óssea e dentária é extremamente prejudicial à criança. Se eu tivesse mais espaço, entraria em detalhes (já estou no final da quinta página, Somir vai me matar).

Só uma curiosidade: os filhos de muitos empresários que trabalham na Coca-Cola estão proibidos de beber Coca-Cola.

Para me perguntar se eu bebo Coca-Cola, para me perguntar se eu
trabalho para a Dolly e para me dizer que você sempre bebeu Coca-Cola e seus ossos e dentes vão muito bem, obrigado: sally@desfavor.com

Fonte: http://blog.desfavor.com/2009_06_14_archive.html

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